"A natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas." (Johan Wolfgang Von Goethe)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

5 etapas para realizar uma boa pesquisa escolar

1 Formular uma boa pergunta:

O primeiro passo para organizar uma situação de investigação que funcione como ferramenta didática é definir o tema de estudo e, em seguida, criar uma pergunta ou situação-problema que desperte na turma a vontade de saber mais (leia o exemplo de uma pesquisa em Ciências no quadro abaixo). Fechada a questão norteadora, antecipe dúvidas ou questões secundárias, que surgirão durante os debates e as descobertas realizadas. Uma boa estratégia é você realizar previamente a pesquisa, levando em conta o nível de conhecimento dos estudantes, as necessidades de aprendizagem e os obstáculos que deverão enfrentar. Essa simulação vai possibilitar ajustes na situação-problema (é possível perceber se o resultado não será o esperado e é preciso reformular a questão, por exemplo) e no planejamento das intervenções.

O tema da pesquisa deve ser atraente e estimulante. "É preciso certo grau de conhecimento sobre o que será investigado para ter a curiosidade despertada e querer se aprofundar no tema", explica Pedro Demo. Não adianta definir como foco a bolsa de valores, por exemplo, se os alunos nunca ouviram falar nesse assunto nem possuem um repertório básico para iniciar a procura. Por isso, antes de propor o trabalho, é importante falar sobre o assunto e exibir vídeos, fotos e outros materiais para aproximar a turma do assunto que será estudado.

O grande desafio é formular questões abrangentes e que permitam diferentes soluções e interpretações, sem ser genéricas ou apenas opinativas. Um exemplo, sobre a independência do Brasil: "Qual foi a importância, para a nossa independência, da reunião de deputados nas cortes portuguesas em 1822?" Para respondê-la, os alunos têm de ler diversos textos, que certamente apresentam diferentes pontos de vista sobre o período e fatores que explicam o fato em questão. É necessário pensar sobre essas diferenças de visão e, em seguida, formular e defender uma ideia própria.

Já a questão "Por que o Brasil se tornou independente?", por outro lado, não tem um foco claro e permite a apresentação de inúmeros argumentos e pontos de vista. Os alunos têm dificuldade de selecionar e ordenar as informações para respondê-la. Além de genérica, ainda permite uma resposta opinativa simples como esta: "Porque não queria mais ser comandado por Portugal" (que não está, necessariamente, certa ou errada).

Da Educação Infantil ao 2º ano
Com alunos menos experientes, o ideal é pesquisar uma única questão coletivamente. É importante anotar num lugar visível, como um grande cartaz na parede, a questão principal e as demais dúvidas surgidas durante o trabalho para que todas sejam relembradas sempre que preciso. Isso permite avaliar os avanços ao longo do processo. As perguntas propostas são simples e muitas delas se referem à localização pontual de informações: "Onde vivem os leões e as girafas?", por exemplo. Como as criança não têm tanta prática nesse tipo de tarefa e ainda estão em fase de alfabetização, isso resolve uma necessidade de aprendizagem fundamental: buscar informações nos livros mesmo não sabendo ler convencionalmente.

Do 3º ao 5º ano
As questões secundárias, feitas durante a investigação, devem incluir problemas interpretativos e abrangentes - e não somente questões pontuais. A ideia, nessa fase da escolaridade, é levar os alunos a selecionar nos textos lidos informações que ajudem a justificar seu ponto de vista, além de desenvolver a habilidade de fazer uma primeira leitura com base em índice, título, subtítulo e legendas.

Do 6º ao 9º ano
A questão principal deve ser suficientemente abrangente para que os jovens, já mais experientes nesse tipo de atividade, ampliem as relações entre diferentes textos e pontos de vista resentados pelos autores. Com a tarefa, eles devem se tornar capazes de relacionar dados obtidos em diversas partes do texto (epígrafes, gráficos, índice, ilustrações etc.) e de identificar o que é opinião e o que é fato.


2 Indicar fontes seguras

A base de qualquer pesquisa são os materiais que os alunos vão analisar. Por isso, a escolha deles deve ser criteriosa e feita, necessariamente, por você assim que começar a planejar a atividade. Deixe claro para a turma que pesquisa não se faz somente em enciclopédias e apresente fontes de diferentes gêneros. De modo geral, não podem ficar de fora os textos típicos de cada área - por exemplo, reportagens de divulgação científica, artigos históricos e resenhas literárias -, mesmo que considerados difíceis para a faixa etária dos alunos. Fique atento à sequência de leitura dos textos. Eles têm de dialogar entre si e as novas questões surgidas precisam ser respondidas pelo próximo.

Além de livros e artigos, fotos e ilustrações e arquivos de áudio e vídeo também podem ajudar. Outras alternativas eficientes, dependendo do tema e da disciplina, são entrevistas com especialistas ou testemunhas históricas e os dados coletados em saídas a campo, experimentos científicos e durante a observação de fenômenos ou situações sociais, além de levantamentos estatísticos.

A consulta à internet é um capítulo à parte. Já está claro que a pesquisa na rede sem orientação não é uma atividade pedagógica produtiva. As diferenças entre a confiabilidade do conhecimento publicado em livros e na internet foi objeto de estudo de Roger Chartier, diretor do Centro de Pesquisas Históricas em Ciências Sociais na École des Hautes Études, na França. Para ele, há um sistema de referências nas fontes impressas que minimiza a possibilidade de erro na publicação de informações. Na internet, esse filtro, quando existe, é bem menos seletivo. Explique isso aos estudantes e deixe claros seus critérios de escolha das páginas indicadas, além de acompanhá-los durante o trabalho.

Um estudo da Universidade de Buenos Aires deu pistas de como os alunos buscam informações na rede para os trabalhos escolares. Eles acessam um site de busca (como o Google) e digitam uma ou mais palavras. Em seguida, tentam avaliar a qualidade dos dados dos sites indicados, refazendo o processo várias vezes até terem alguma certeza de que nomes, números e datas conferem - um procedimento altamente complexo e que nem sempre funciona. Quando a informação pesquisada não é pontual, a prática se torna mais ineficiente.

Por fim, alerte os alunos para a importância das referências sobre cada fonte consultada (Quem é? Quando disse isso? Por quê?). Esse cuidado ajuda a chancelar a qualidade do trabalho e a demonstrar que há sempre algum viés ideológico e que não existe fonte neutra (leia o exemplo de uma pesquisa em Geografia no quadro abaixo).

Da Educação Infantil ao 2º ano
Para as turmas em fase de alfabetização, são uma boa pedida os textos curtos e com ilustrações, que ajudam a entender o assunto tratado. Reportagens de revistas, que contenham fotos, e infográficos podem atender aos mesmos objetivos. Na hora de escolher os livros de consulta, opte pelos que têm índices que façam referências claras aos temas de cada página ou capítulo. A internet deve ser usada com parcimônia, só para as dúvidas mais pontuais.

Do 3º ao 5º ano 

Textos científicos e jornalísticos mais longos são adequados. Certifique-se de que eles contenham diferentes perspectivas e pontos de vista. Nessa fase, as crianças já podem lidar com a dificuldade que se apresenta quando dados não coincidem. Elas devem aprender que, diferentemente do que ocorre durante a leitura de ficção, as informações devem ser analisadas e confrontadas. Nos trabalhos em grupo, garanta que todos tenham acesso a diferentes fontes para que aprendam a comparar informações.

Do 6º ao 9º ano
Nesse segmento, a pesquisa deve ser realizada com mais autonomia. Indique fontes que tragam as informações procuradas e outras que não tratem diretamente do assunto. Na vida real, muitos dos materiais que consultamos não contêm o que buscamos. Debata com a sala o que são sites confiáveis e problemas encontrados em blogs, que muitas vezes não passam pelo crivo de um editor. Os que já estão cientes disso podem pesquisar sozinhos. Porém, durante o trabalho, eles terão de justificar por que consideram a informação confiável.



3 Ensinar a interpretar

A etapa mais importante da pesquisa escolar é, sem dúvida, a interpretação de tudo o que foi lido, visto e experimentado durante o processo. "Com a ajuda do professor, os alunos vão conhecer modelos mais claros de leitura para estudar, aprender a tomar notas, fazer resumos e analisar imagens e procedimentos de observação e experimentação", ressalta Jorge Santos Martins, autor de livros sobre pesquisa. As situações de interpretação são de três tipos: individuais, em pequenos grupos e com toda a sala. Com qual delas começar é um critério didático que deve ser planejado com cuidado. O aluno pode ter um primeiro contato com o material sozinho, utilizando os conhecimentos que tem até o momento. Depois, coletivamente, é possível introduzir as discussões pedindo que todos indiquem pontos que contribuem para o propósito da pesquisa. Após a discussão, ajude-os a encontrar uma linha interpretativa ajustada aos propósitos do trabalho (leia o exemplo de pesquisa em Matemática no quadro abaixo).

Cada material demanda um trabalho de análise diferenciado. Em relação à leitura de imagens, proponha comparações entre elas, identifique os autores, trabalhe a intenção comunicativa deles e contextualize o momento de produção. Durante experimentos científicos, indique formas de testar hipóteses. Nas saídas de campo, é preciso orientar o olhar das crianças e levar materiais de apoio para explicar o que está sendo visto.

A interpretação de textos, por sua vez, é a atividade mais recorrente numa pesquisa. Em contato com o texto, os alunos aprendem determinado conteúdo enquanto relacionam o que está sendo lido àquilo que já sabem. Por isso, fique atento e avalie constantemente se eles possuem informações prévias que permitam compreender o sentido dos escritos e como lidam com as contradições entre o que já sabem e os novos dados. A atividade inclui revisar conhecimentos anteriores, reorganizá-los sob nova perspectiva, estabelecer diferentes relações, propor-se perguntas e buscar respostas. Um desafio e tanto. Para ajudá-los, faça leituras coletivas e vá acrescentando informações, destaque marcadores linguísticos de argumentação ou oposição, faça perguntas e proponha anotações.

Da Educação Infantil ao 2º ano

Para as turmas que ainda estão se alfabetizando, as situações coletivas de leitura e interpretação são essenciais. Nessa hora, você se apresenta como um modelo leitor desses novos gêneros. Aproveite esses momentos para mostrar a necessidade de fazer inferências para construir sentidos e peça que os alunos tomem notas, escrevendo da maneira que sabem.

Do 3º ao 5º ano

Nessa fase, é essencial ensinar a turma a fazer anotações e produzir resumos e tabelas que ajudem na compreensão do material que foi analisado. Essas atividades facilitam a organização lógica do pensamento das crianças.

Do 6º ao 9º ano

Os alunos devem ser convidados a interpretar textos, imagens e dados de forma autônoma cada vez com mais frequência. Acompanhe sempre. Ao observar problemas na compreensão do que está sendo estudado, retome o material utilizado e ajuste as interpretações.

4 Orientar a produção escrita

Para estudar, não é importante somente ler, mas também escrever. A escrita é uma poderosa ferramenta de organização do conhecimento e favorece o aprofundamento do tema abordado. Por isso, é fundamental que você oriente a turma sobre como tomar notas e elaborar resumos que ajudem na seleção de informações que respondam à questão proposta. Leia alguns exemplos e modelos. Explique que não se trata de cópias de partes do texto, mas de explicações e anotações com as próprias palavras sobre o que foi lido. Deixe claro que esses registros ajudam na análise e na escrita da conclusão da investigação.

Das etapas da pesquisa escolar, a produção de texto é a que requer mais atenção de sua parte e a que representa o maior desafio para os alunos. Isso porque, de modo geral, eles não estão acostumados a produzir textos em que é preciso demonstrar o conhecimento obtido na consulta a fontes variadas. Como assumir um ponto de vista próprio tendo como base as ideias de diversas pessoas? O que está em jogo é integrar de maneira coerente e pessoal as informações vindas dos vários meios, sempre tendo em mente a necessidade de responder à pergunta inicial e às secundárias.

No seu planejamento, determine qual será o produto final, de acordo com os objetivos propostos e o nível de conhecimento da sala (leia o exemplo de uma pesquisa na Educação Infantil no quadro abaixo). Um livro de verbetes enciclopédicos produzido coletivamente, uma reportagem, um seminário com apoio escrito, um artigo e um cartaz são algumas das opções. Seja qual for sua escolha, não se esqueça de que a garotada precisa conhecer modelos. Para garantir a familiaridade, faça muitas leituras do gênero, discuta sua estrutura e função comunicativa e chame a atenção para os elementos linguísticos que caracterizam sua organização. Oriente cada passo da produção, propondo mudanças e realizando revisões coletivas dos elementos textuais e da apresentação da própria informação.



Da Educação Infantil ao 2º ano
Nessa fase, as produções orais com destino escrito são a melhor estratégia de sistematização. Com a sua orientação, os alunos podem refletir sobre a linguagem que se escreve e sobre a estrutura que a apresentação necessita ter. Um bom desafio para os pequenos é tentar escrever de forma autônoma verbetes e fichas contendo diferentes descobertas.

Do 3º ao 5º ano

Reportagens, relatórios e resumos são adequados para o nível desses estudantes. Para produzi-los, intercale momentos de produção individual, situações com toda a sala e em subgrupos. Reforce as orientações sobre a questão da cópia (usar uma informação não é copiá-la) e a importância de fazer referência aos dados usados.

Do 6º ao 9º ano
O desafio deve ser crescente. Convide os jovens a produzir monografias e artigos, como fazem cientistas e pesquisadores profissionais. É importante trabalhar cada tópico em aula e ajudar na definição de objetivos, justificativas e conclusões.

5 Socializar os trabalhos
Os resultados das investigações feitas pelos alunos devem ser mostrados aos colegas, a outras turmas da escola ou mesmo à comunidade. "No mundo real, as descobertas decorrentes de uma pesquisa são divulgadas em publicações especializadas e para plateias interessadas, possibilitando que o conhecimento circule. Cabe à escola organizar situações semelhantes", afirma Jorge Santos Martins. A organização de debates, palestras, seminários e feiras de Ciências abertas à comunidade, além da produção de murais informativos no pátio, livros, textos e outros documentos são algumas opções (leia o exemplo de uma pesquisa em História no quadro abaixo). Não se esqueça de que qualquer uma delas deve ser proposta após o oferecimento de modelos e ser desenvolvida com orientação direta. Nas situações de apresentação oral, o aluno se porta como um especialista que explica e tira possíveis dúvidas dos ouvintes.

Quando toda a sala pesquisa uma única questão, é possível propor, por exemplo, um debate final dividindo os estudantes em dois grupos que devem discutir pontos polêmicos, se for o caso. Cheque as aprendizagens, perceba pontos que necessitam ser retomados, corrija possíveis erros conceituais e amarre as informações. Lembre: o professor é você. Se a turma foi convidada a investigar diferentes aspectos dentro de um mesmo tema, a socialização das descobertas se torna ainda mais importante. Os estudantes se informam com os colegas em apresentações orais ou por meio de resumos e aprendem com as intervenções que você propõe durante a aula. É essencial fazer uma sistematização de tudo o que foi trazido. Num novo texto, uma espécie de resumo coletivo, eles explicam o que foi aprendido. Assim, você avalia os avanços e verifica o que falta retomar.


Da Educação Infantil ao 2º ano

Uma maneira de fazer o conhecimento circular é preparar minisseminários para os pais com textos e desenhos das crianças. Ao ensinar os adultos, elas se sentem verdadeiros especialistas no assunto.

Do 3º ao 5º ano

Produzir cartazes e pôsteres para ser colocados no pátio da escola com as respostas a diferentes perguntas surgidas durante a pesquisa está entre as estratégias adequadas para essa faixa etária. A turma pode ser dividida em grupos para explicar com mais detalhes o que foi descoberto.

Do 6º ao 9º ano

O ideal é desafiar os alunos a produzir seminários e debates com a participação de toda a escola. Os grupos podem defender os trabalhos para uma "banca" ou criar experimentos e situações para explicar o caminho trilhado até chegar às conclusões em uma feira de Ciências.

Sórindo!




 


Disponível em: http://www.juniao.com.br/weblog/archives/charge_cartum/index.html

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Use a internet a favor da Educação

A rede mundial de computadores e seus inúmeros recursos oferecem muito concorrência ao estudo para crianças e adolescentes, é verdade. Mas a web também pode ser usada a favor da Educação, pois o seu uso aumenta as conexões lingüísticas, geográficas e interpessoais. Saiba como a internet pode se tornar uma aliada para melhorar a Educação do Brasil.
Redes sociais
Twitter, Facebook, Formspring, Orkut podem promover interação pedagógica entre alunos e professores.
Chats
Professores conectados podem usar programas como o MSN para tirar dúvidas dos alunos na hora da lição de casa.
Sites educativos
Sites oferecem conteúdos úteis para todas as fases do aprendizado: da alfabetização até o Ensino Médio. Confira alguns aqui.
Blogs
Incentivar crianças e adolescentes a ter diários é uma maneira diferente de estimular a leitura e a escrita.
Educação a distância
Cada vez mais gente tem conseguido fazer Ensino Superior graças à possibilidade de estudar remotamente
Pesquisa
Com a ajuda do professor, a web pode ser uma ótima fonte de pesquisa. Há muita informação de qualidade na rede
Divulgação de trabalhos
A internet é uma maneira fácil e barata de valorizar trabalhos. É possível criar um blog ou um canal no YouTube para postar vídeos. Veja a experiência da professora Lina Mendes.
O celular tira a concentração dos alunos e atrapalha as aulas? Certamente a maioria dos professores diria que sim. Mas Lina Mendes, professora de Português do Colégio Ítaca, em São Paulo, resolveu transformar o celular num aliado. Ao trabalhar a questão do preconceito, ela pediu que os alunos fizessem vídeos sobre o tema utilizando as câmeras dos celulares. Em uma conversa por telefone hoje à tarde, Lina me contou um pouco dessa experiência:
“Sempre procurei aliar a tecnologia à Educação. Fiz mestrado nessa área e, desde que comecei a lecionar, uso ferramentas como blogs e podcasts. A minha experiência mais recente foi com vídeos. Além de Português, dou uma disciplina que se chama Panoramas, em que trabalho temas da atualidade que fazem os alunos refletirem. No segundo bimestre desse ano, abordei o preconceito e pedi que os alunos do 9º ano usassem a câmera do celular para fazer vídeos sobre o tema.
Eles fizeram trabalhos bem interessantes. Muitos fizeram entrevistas com pessoas que conheciam e que já tinham sofrido preconceito, outros produziram vídeos bem autorais. Eles puderam usar também trechos de vídeos que já estão disponíveis no YouTube.
Para editar, eles usaram o Windows MovieMaker, programa que já vem junto com o Windows. Como eles têm muita facilidade com a tecnologia, com poucas orientações aprenderam a usar o programa. A maioria fez o trabalho em casa, mas alguns preferiram usar o laboratório de informática da escola. No fim, criamos dois blogs para divulgar os trabalhos: o Preconceito – Panoramas e o Vídeos de Preconceito.
Foi uma experiência ótima e que certamente pretendo repetir. Os alunos se interessaram muito, pois eles se sentiram participando do processo. Continuo usando a lousa e o giz, mas é muito importante trazer o mundo do aluno para dentro da escola também.”
Neste blog, Lina conta mais sobre as suas experiências e propõe debates sobre tecnologia, leitura, escrita e outras discussões que passem pelos bancos da escola. E você? Conhece alguma experiência interessante que una tecnologia e Educação? Conte pra gente!
por: Marina Azaredo

Ler por prazer é o X da questão!


Num país castigado pelo analfabetismo, projetos de incentivo à leitura são muito mais que bem-vindos: são fundamentais!

Correr os olhos pelos livros dispostos numa prateleira, escolher um deles e dirigir-se à poltrona mais próxima, seja na biblioteca, na livraria ou na sala de casa. Melhor ainda: deixar-se escolher por uma obra literária. À medida que as páginas são viradas, o leitor se vê transportado para uma espécie de realidade paralela - um mundo inteiramente novo, repleto de descobertas, encantamento e diversão. Pouco importa se quem lê é criança, jovem ou adulto. Menos ainda se o que está sendo lido é poesia, romance ou um livro de auto-ajuda. O que realmente interessa é a cumplicidade entre o leitor e a obra, alicerçada no prazer que só a leitura é capaz de proporcionar.
Ler por prazer é o X da questão. Há quem leia, por exemplo, apenas para se informar, dedicando regulamente algumas horas de seu precioso tempo a jornais e revistas - como você, caro leitor, está fazendo neste exato momento. Trata-se de um hábito mais que saudável, a ser preservado e disseminado, e de suma importância na chamada "sociedade da informação" em que vivemos. Mas ele não necessariamente irá transformar você num apaixonado pela palavra escrita. Da mesma forma, a leitura para estudar, parte da rotina nas salas de aula, tem suas funções pedagógicas, mas não faz despertar a paixão pela literatura. Quem descobre prazer numa obra literária nunca mais pára de ler. Quando chega ao fim de um livro, já está louco para abrir o próximo. E só tem a ganhar com isso.
O papel da escola é fundamental nesse processo. E quem melhor que o professor para despertar em seus alunos o prazer da leitura? São muitas as atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula com esse objetivo. "Promover um debate, por exemplo, para discutir cenas ou situações presentes num livro que acaba de ser lido pela turma é uma prática importante e muitas vezes esquecida", afirma a educadora Maria José Nóbrega. O problema é que o profissional de educação nem sempre conta com os recursos necessários para concretizar essas atividades, ou simplesmente não sabe como implementá-las.
Quando a escola não cumpre esse papel, ganham relevância os inúmeros projetos de fomento à leitura espalhados pelo Brasil, tema desta edição especial de NOVA ESCOLA. Num país que ainda sofre com deficiências no ensino público e com o alto índice de analfabetos funcionais (aqueles que, embora tenham aprendido a decodificar a escrita, não desenvolveram a habilidade de interpretação de texto), qualquer iniciativa que vise a transformar brasileiros em leitores é extremamente bem-vinda.
Por que lemos tão pouco?
Segundo a Câmara Brasileira do Livro (CBL), cada brasileiro lê pouco mais de dois livros por ano. Na Inglaterra, estima-se que a média seja de 4,9; nos Estados Unidos, é de 5,1. Outro dado preocupante: por aqui, o tempo médio dedicado à leitura não passa de 5,5 horas por semana, enquanto na Índia - um país em desenvolvimento cuja situação econômica é semelhante à do Brasil - a média é quase o dobro, de dez horas semanais. Por que lemos tão pouco? Há várias respostas, a começar pelo desconcertante grau de analfabetismo funcional.

O Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado no início de 2008 pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, revela que apenas 28% dos brasileiros com idade entre 15 e 64 anos têm domínio pleno da leitura e da escrita - ou seja, conseguem ler textos longos, localizar e relacionar mais de uma informação, comparar dados e identificar fontes. Entre os 72% restantes, as habilidades de leitura e escrita são rudimentares ou básicas, limitando-se à compreensão de títulos, frases e textos curtos.

Outro fator que ajuda a explicar os índices precários de leitura no Brasil: até o final de 2007, 380 municípios de todo o país - cerca de 7% do total - simplesmente não contavam com uma biblioteca pública sequer. A situação já foi bem pior: em 2003, eram 1 173 as cidades sem esse serviço. No entanto, construir bibliotecas Brasil afora e enchê-las de livros não significa resolver o problema. É preciso prepará-las para atingir seus objetivos, entre os quais destaca-se o de incentivar a leitura entre crianças, jovens e adultos. "Nos últimos 15 anos, passamos a encontrar livros em maior quantidade nas bibliotecas", afirma Elizabeth Serra, secretária-geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). "O problema é que, no Brasil, a rede de bibliotecas públicas é muito frágil. O sistema não foi informatizado, não há espaços planejados para os pequenos, os livros são antigos e não há renovação anual do acervo."
Para a maioria dos brasileiros, livro ainda é artigo de luxo
Se o cidadão mora numa cidade em que não há biblioteca pública, ou se a existente não conta com um acervo que satisfaça suas necessidades, uma alternativa é ir até a livraria mais próxima e comprar o livro que ele tanto quer ler. Aqui, no entanto, esbarramos em dois outros problemas, que também explicam a dificuldade que o Brasil enfrenta para formar novos leitores.

De acordo com diagnóstico do setor livreiro, divulgado pela Associação Nacional de Livrarias (ANL) no fim de 2007, o país conta com apenas 2 676 estabelecimentos dedicados à venda de livros. É pouco: uma livraria para cada grupo de aproximadamente 70,5 mil habitantes. Na vizinha Argentina, a relação é de uma para 50 mil pessoas. Para piorar, as livrarias estão concentradas nas regiões mais desenvolvidas, justamente aquelas que também são atendidas por um número maior de bibliotecas públicas. Mais de 50% das livrarias ficam na região Sudeste, sobretudo nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro - juntos, eles reúnem 1 371 estabelecimentos. Em contrapartida, a ANL identificou apenas 524 livrarias em toda a região Nordeste (20% do total nacional), 132 na região Norte (5%) e 118 na região Centro-Oeste (4%). Roraima é o estado brasileiro com o menor número de estabelecimentos dedicados à venda de livros: apenas quatro, ou o equivalente a uma livraria para 164 mil habitantes. O quadro é ainda pior em Tocantins, onde a média é de 181 mil habitantes por estabelecimento.

Ter uma livraria na esquina de casa, porém, não quer dizer muita coisa, já que livros sempre foram artigos de luxo para a maioria da população brasileira. O preço médio do exemplar varia entre 25 e 30 reais - ou seja, até 7% de um salário mínimo. Por falta de leitores, quase todos os títulos editados no Brasil têm baixa tiragem, o que empurra o preço do exemplar para cima. Se o livro é caro, as vendas não aumentam; se as vendas não aumentam, o preço continua elevado. E o resultado é um nó que, até agora, ninguém descobriu como desatar.
Iniciativas que despertam as pessoas para a leitura
Foto: RICARDO JAEGGER
Felizmente, nem tudo são trevas quando o assunto é o despertar da leitura no Brasil. Nos últimos anos, algumas ações capitaneadas pelo poder público, pela iniciativa privada e por entidades do terceiro setor - ONGs, institutos ou associações sem fins lucrativos - vêm ajudando a reverter essa situação. Entre elas, o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), um conjunto de projetos, programas, atividades e eventos implementado pelo governo federal, com a participação da sociedade civil, que tem como objetivo levar a leitura para o dia a dia do brasileiro. Também contribuem as badaladas feiras literárias espalhadas pelo Brasil, como a Flip (Festa Literária Internacional de Parati, no Rio de Janeiro), o Literato (Encontro Literário do Tocantins) e a Feira do Livro de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Elas atraem milhares de visitantes todos os anos e mobilizam a mídia em torno da importância do livro.

Para Marisa Lajolo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, cada uma dessas iniciativas é extremamente importante. Contudo, é fundamental que as políticas de incentivo à leitura se descolem da mera organização de feiras ou da criação de bibliotecas e salas de leitura. O mais urgente, segundo ela, é investir em material humano, com a formação de mediadores de leitura, professores e bibliotecários capazes de semear o prazer da leitura por todo o país. "Mediadores são os instrumentos mais eficientes para fazer da leitura uma prática social mais difundida e aproveitada."

À frente de uma verdadeira revolução silenciosa, que raramente vira notícia, projetos de incentivo à leitura como os que você conhecerá nas reportagens desta edição especial formam e multiplicam mediadores de leitura em todo o Brasil, muitas vezes atuando em regiões carentes e em localidades de difícil acesso. E mais: criam bibliotecas comunitárias, facilitam o acesso aos livros, promovem encontros com escritores... Enfim, transformam milhares de crianças, jovens e adultos em leitores - sempre com muito prazer.

Publicado por: Fred Linardi (novaescola@atleitor.com.br), colaborou Eduardo Lima