domingo, 19 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
Philippe Perrenoud
O sociólogo suíço Philippe Perrenoud discorre sobre temas como formação, avaliação e desenvolvimento de competências.
Foto: Juliet Piper
"Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos para solucionar uma série de situações", diz Perrenoud.
“Ele trouxe definitivamente à berlinda a discussão do profissionalismo”, ressalta Suzana Moreira, coordenadora pedagógica da Escola Projeto Vida, responsável por cursos de capacitação nas redes pública e particular. Nesse trabalho, ela incentiva a postura reflexiva destacada por Perrenoud. Numa primeira etapa, Suzana assiste a algumas aulas. Em seguida, conversa com o professor e faz com que ele questione a própria atuação. “Só depois de uma reflexão sobre erros e acertos, eu passo os referenciais teóricos. Todos têm o direito de errar para evoluir.”
Perrenoud auxilia nessa tarefa ao levantar as grandes dificuldades encontradas por quem assume uma sala de aula. Quando escreveu sobre a comunicação entre aluno e professor, por exemplo, ele fez um levantamento para saber o que o segundo anotava nos cadernos e boletins dos primeiros. Pediu também, nas entrevistas com os colegas, uma lista de observações sobre o que se perde quando a comunicação em classe não funciona. Ao combinar essas informações, chegou a 11 dilemas sobre o assunto, como “Deixar falar ou fazer ficar quieto?” e “Como fazer justiça, sem interferir nas regras do jogo social?” “Embora não aponte a solução, ele tem o mérito de identificar os problemas”, afirma Lino de Macedo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Perrenoud auxilia nessa tarefa ao levantar as grandes dificuldades encontradas por quem assume uma sala de aula. Quando escreveu sobre a comunicação entre aluno e professor, por exemplo, ele fez um levantamento para saber o que o segundo anotava nos cadernos e boletins dos primeiros. Pediu também, nas entrevistas com os colegas, uma lista de observações sobre o que se perde quando a comunicação em classe não funciona. Ao combinar essas informações, chegou a 11 dilemas sobre o assunto, como “Deixar falar ou fazer ficar quieto?” e “Como fazer justiça, sem interferir nas regras do jogo social?” “Embora não aponte a solução, ele tem o mérito de identificar os problemas”, afirma Lino de Macedo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Esse é um dos pontos mais reconhecidos de seu trabalho. “Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar uma série de situações”, explica ele. “Localizar-se numa cidade desconhecida, por exemplo, mobiliza as capacidades de ler um mapa, pedir informações; mais os saberes de referências geográficas e de escala.” A descrição de cada competência, diz , deve partir da análise de situações específicas.
A abordagem por competência também é utilizada quando Perrenoud fixa objetivos na formação profissional. No livro 10 Novas Competências para Ensinar, ele relaciona o que é imprescindível saber para ensinar bem numa sociedade em que o conhecimento está cada vez mais acessível:
1- Organizar e dirigir situações de aprendizagem;
2- Administrar a progressão das aprendizagens;
3- Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
4- Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5- Trabalhar em equipe;
6- Participar da administração escolar;
7- Informar e envolver os pais;
8- Utilizar novas tecnologias;
9- Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10- Administrar a própria formação.
A abordagem por competência também é utilizada quando Perrenoud fixa objetivos na formação profissional. No livro 10 Novas Competências para Ensinar, ele relaciona o que é imprescindível saber para ensinar bem numa sociedade em que o conhecimento está cada vez mais acessível:
1- Organizar e dirigir situações de aprendizagem;
2- Administrar a progressão das aprendizagens;
3- Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
4- Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5- Trabalhar em equipe;
6- Participar da administração escolar;
7- Informar e envolver os pais;
8- Utilizar novas tecnologias;
9- Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10- Administrar a própria formação.
Biografia: doutor em sociologia e antropologia, ele dá aulas nas Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Genebra, nas áreas de currículo, práticas pedagógicas e instituições de formação. Escreveu 10 Novas Competências para Ensinar (Ed. Artmed); Ensinar: Agir na Urgência, Decidir na Incerteza, (Ed. Artmed) entre outros
O que ele diz: relaciona num de seus livros as dez novas competências para ensinar. Também fala sobre avaliação, pedagogia diferenciada e formação
Um alerta: as dez competências não contemplam todas as relações que se estabelecem em sala de aula. Por isso, nunca deixe de lado sua sensibilidade e afetividade.
O sociólogo suíço Philippe Perrenoud é um dos novos autores mais lidos no Brasil. Com nove títulos publicados em português, vendeu nos últimos três anos mais de 80 mil exemplares. O principal motivo do sucesso é o fato de ele discorrer, de forma clara e explicativa, sobre temas complexos e atuais, como formação, avaliação, pedagogia diferenciada e, principalmente, o desenvolvimento de competências.
Disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/materias_296368.shtml?page=page1
Por que o Ensino Médio precisa mudar?
Como aumentar a audiência no Ensino Médio? Para tentar responder a essa pergunta, o Instituto Unibanco, que apoia o EDUCAR PARA CRESCER, realizou um seminário na última sexta-feira, 26, com a presença de especialistas em Educação, que falaram sobre o Ensino Médio no mundo e as perspectivas brasileiras. Entre os palestrantes, estavam os economistas Claudio de Moura Castro e Ricardo Paes de Barros, a ex-diretora-adjunta do International Institute for Educational Planning/Unesco Françoise Caillods, o sociólogo Simon Schwartzman, a superintendente-executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, o ex-presidente do Inep Reynaldo Fernandes e o professor da UFMG José Francisco Soares.
Durante o seminário, ficou claro que não é apenas no Brasil que o Ensino Médio tem problemas de evasão e desinteresse. A grande questão hoje é como tornar essa etapa da vida escolar interessante para os adolescentes, tanto aqui como em outros países do mundo. “Os jovens são muito presente-orientados. O Ensino Médio precisa trazer mais benefícios imediatos, assim como benefícios futuros”, afirmou Reynaldo Fernandes. Para Claudio de Moura Castro, “a escola brasileira não é a escola de aprender, é a escola de ouvir falar. Os professores passam o conteúdo por cima, pois acham que tudo é importante. A mudança na Educação brasileira passa fundamentalmente pela revisão da ideia do excesso de matéria”.
A francesa Françoise Caillods apresentou o exemplo dos Estados Unidos, que foi o primeiro país a tornar o Ensino Médio obrigatório, no início do século XX. Ela apresentou dados que mostram que quem passa mais tempo na sala de aula possui uma perspectiva financeira melhor. Mas parece que isso não é suficiente para os jovens. Pelo menos não para aqueles que estão abandonando a escola.
Para o economista Ricardo Paes de Barros, a solução para a crise de audiência do Ensino Médio passa pela flexibilidade e atratividade da escola. Uma das experiências apontadas como bem sucedidas para manter os jovens na escola vem do Estado de Goiás. Lá, o conteúdo do Ensino Médio foi dividido em seis períodos de seis meses. Assim, o aluno é incentivado a estudar durante todo o ano letivo e, em caso de reprovação, não perde um ano inteiro, mas apenas seis meses.
Dois estudos fomentados pelo Instituto Unibanco e apresentadas na quinta-feira por pesquisadores da Fundace e da FGV apresentaram um diagnóstico da evasão no Ensino Médio. De acordo com as pesquisas, o mau desempenho no Ensino Fundamental e a distorção idade-série são fatores determinantes para os altos índices de abandono e evasão na etapa seguinte. A verdade é que não existe fórmula mágica para resolver a crise de audiência no Ensino Médio, mas refletir e fazer um diagnóstico do problema já é um bom começo. Como sabemos, hoje quase todas as crianças brasileiras de 7 a 14 anos estão no Ensino Fundamental. Agora é hora de pensar no Ensino Médio.
Por: Marina Azaredo
Disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/blog/boletim-educacao/2010/11/29/por-ensino-medio-precisa-mudar/
Doze Anos
Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de pipoca
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de pipoca
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Apresente-se à Literatura!
A escola é um ambiente privilegiado para garantir muito contato com os livros. Conheça, passo a passo, os caminhos para ir além dos resumos e questionários de leitura e incentivar na garotada o gosto pelas obras literárias - mesmo que você não tenha familiaridade com esse tipo de texto.
Muito se fala do poder da literatura - e de como a escola é um lugar privilegiado para estimular o gosto pela leitura. Infelizmente, porém, as salas de aula brasileiras estão longe de ser "celeiros de leitores". Salvo exceções, o contato dos estudantes com os livros costuma seguir um roteiro no mínimo enfadonho: alguns títulos (quase sempre "clássicos") são indicados (leia-se empurrados goela abaixo) e viram conteúdo avaliado (perguntas de interpretação de texto com uma única resposta correta). E só. A experiência que deveria ser desafiadora vira uma tarefa burocrática e sem graça. Os jovens se formam sem entender os benefícios da leitura e acabam não lendo mais nada. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e o Instituto Pró-Livro mostra que 45% da população não lê nenhum exemplar por ano (desses, 53% dizem simplesmente "não ter interesse" e outros 42% admitem "ter dificuldade").
Mas, obviamente, é possível mudar esse quadro. Esta reportagem especial se propõe a ajudar você com dicas de especialistas e novidades do campo da didática. Para começar, é preciso compreender que, antes de analisar e refletir sobre os aspectos formais da literatura (história, linguagem etc.), os estudantes têm de gostar de ler. E isso só se faz de uma maneira: lendo, lendo, lendo. Porém ninguém nasce sabendo. Cabe à escola dar acesso às obras e ensinar os chamados comportamentos leitores: "entrar" na aventura com os personagens, comentar sobre o enredo, buscar textos semelhantes, conhecer mais sobre o autor, trocar indicações literárias. Tudo pelo prazer que a literatura proporciona, de nos levar a outros lugares e épocas. Um percurso que idealmente começa na infância - mas também pode ser iniciado mais tarde (nunca é tarde para abrir o primeiro livro).
Formação literária do professor: nunca é tarde para gostar de ler
Muitos professores brasileiros não tiveram a chance de construir uma história como leitores de literatura. Mas sempre é tempo de criar o hábito de leitura e também inspirar seus alunos.
Você terminou de ler um romance. Chega à escola e corre para compartilhar a experiência com os colegas. Fala sobre os conflitos do personagem (sem entregar o fim da história, é claro) e comenta que já viveu vários dos questionamentos narrados na história - razão pela qual a trama prendeu a atenção do começo ao fim. Outro professor aproveita para dizer que já leu algo do mesmo autor - e a conversa continua, animada, até a hora de a aula começar.
"Um mesmo livro nunca é o mesmo para duas pessoas", já disse o poeta Ferreira Gullar. Essa experiência, ao mesmo tempo pessoal e coletiva, é tão rica porque nos permite entrar em contato com uma realidade diferente da nossa - e, graças a isso, (re)construir nossa própria história dia após dia.
Porém a realidade de grande parte dos docentes brasileiros está bem longe disso. Muitos não tiveram acesso a obras literárias em casa nem construíram práticas sociais de leitura (na Educação Básica e nos cursos de graduação universitária). "O professor médio brasileiro do ensino público teve pouco acesso e estímulo a ler. Por isso, conhece poucas obras de literatura contemporânea e clássica", afirma Zoara Failla, gerente executiva de projetos do Instituto Pró-Livro. Então, o que fazer para transformar essa pessoa que tem pouca familiaridade com a literatura em um agente disseminador de boas práticas leitoras? O mais importante é saber que nunca é tarde para se deixar encantar pela literatura e começar uma trajetória como leitor - ou, quem sabe, ampliar ainda mais os conhecimentos sobre os livros. Vamos nessa?
Por que ler
O leitor literário lê por razões variadas: rir, refletir, investigar, relembrar, chorar e até sentir medo. Lê porque mergulha no que autores e personagens pensam e sentem - no passado, presente ou futuro, em lugares distantes ou que nem sequer existem. Lê porque as narrativas literárias o ajudam a refletir sobre a vida e a construir significados para ela.
Como virar um leitor
Não existe um caminho único para se tornar um leitor literário. Você pode começar por textos simples do ponto de vista linguístico e depois passar para os mais complexos - ou iniciar por temas próximos e partir para os mais distantes. "E há os que preferem os grandes desafios desde o princípio porque sabem que eles têm algo a oferecer, nem que seja a estranheza", afirma Ana Flávia Alonço Castanho, selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Um bom caminho para alavancar o gosto pelos livros é procurar uma comunidade de leitores (podem ser os professores da escola, os amigos, os parentes - o importante é encontrar gente que goste de ler). Em Andar entre Livros, Teresa Colomer, professora de Literatura na Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, afirma que "ao compartilhar as impressões sobre uma leitura passamos a saber os significados que a obra tem para os outros, o que enriquece nosso repertório". Outra vantagem desse diálogo permanente é a troca de indicações de textos e autores.
O livro (e outras linguagens)
Para os adultos que estão se iniciando no mundo da literatura, perceber as relações entre os livros e outras linguagens é também um caminho interessante. Ver um filme, ouvir uma música ou assistir a uma peça de teatro baseados em obras literárias e depois ler o texto original - ou vice-versa - é ótimo para entender como uma história é contada de maneiras diferentes. Cada formato tem uma especificidade e prioriza determinados elementos, como a descrição do personagem ou do cenário. É inevitável fazer algumas perguntas. O que mudou do texto para a encenação? Como o cinema traduziu em imagens uma paisagem antes descrita só em palavras? E os personagens, como foram retratados? Isso ajuda a despertar o senso crítico e, claro, querer ler mais.
Quando ler
A leitura deve ser uma atividade cotidiana, mas não precisa ter hora marcada nem deve se restringir a obras novas. Que tal retomar um livro que foi difícil de ler (ou aquele que você adorou)? Em determinada época da vida, um título pode parecer complexo ou não emocionar e, em outras, ganhar novos sentidos. Já no caso dos livros preferidos, nada melhor do que sentir novamente as sensações que a obra provocou, reler os trechos que mais gostou e relembrar as razões que o levaram a eleger aquele escritor como uma referência.
Onde ler
A leitura é um hobby e cada pessoa conhece o melhor lugar para se entregar aos livros. Há quem goste de ler deitado na cama, antes de dormir. Ou ler no ônibus, a caminho do trabalho. Outros preferem o sofá da sala. E você?
O que ler
Muita gente diz que o bom leitor é aquele que lê os grandes clássicos da literatura. Bobagem. Um leitor competente lê de tudo e passeia por gêneros variados, trilhando o próprio percurso. "Como diz o poeta brasileiro José Paulo Paes, devemos ler desde pornografia até metafísica", argumenta Heloisa Ramos, especialista em Língua Portuguesa e formadora do projeto Letras de Luz, da Fundação Victor Civita (FVC). Os best-sellers, por exemplo, recorrem a padrões narrativos simples e trazem certo conforto. "É por isso que tanta gente gosta dessas obras", afirma Celinha Nascimento, mestre em Literatura Brasileira e assessora de escolas públicas e particulares. "Mas não tenha medo de explorar outras possibilidades", sugere (confira na próxima página sugestões para aprofundar-se no mundo da literatura). Aguns livros exigem mais, pedem esforço intelectual, persistência e concentração. Em troca, costumam nos recompensar mais. "Ler Machado de Assis pode não ser fácil, mas não há dúvida de que proporciona muito mais possibilidades de reflexão", afirma Ana Flávia. Só não deixe que tudo isso vire sinônimo de sofrimento. "Fica mais fácil aceitar os percalços da leitura quando encontramos alguma satisfação", argumenta Celinha. Isso vale para você e para seus colegas. E também para seus alunos. Pode parecer difícil, mas basta dar o primeiro passo - ou melhor, abrir o primeiro livro. Boas leituras!
Estante
A Casa dos Espíritos, Isabel Allende, 448 págs., Ed. Bertrand Brasil, tel. (21) 2585-2000, 59 reais | A Vida Como Ela É, Nelson Rodrigues, 980 págs., Ed. Agir, tel. (21) 3882-8200, 62,90 reais | As Meninas, Lygia Fagundes Telles, 304 págs., Ed. Companhia das Letras, tel. (11) 3707-3500, 41 reais |
Bagagem, Adélia Prado, 144 págs., Ed. Record, tel. (21) 2585-2000, 29,90 reais | Capitães da Areia, Jorge Amado, 280 págs., Ed. Companhia das Letras, tel. (11) 3707-3500, 23 reais | Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez, 400 págs., Ed. Record, tel. (21) 2585-2000, 44,90 reais |
Felicidade Clandestina, Clarice Lispector, 160 págs., Ed. Rocco, tel. (21) 3525-2000, 25,50 reais | Meu Pé de Laranja Lima, José Mauro de Vasconcellos, 117 págs., Ed. Melhoramentos, tel. (11) 3874-0800, 26 reais | O Amante, Marguerite Duras, 112 págs., Ed. Cosac Naify, tel. (11) 3218-1473, 45 reais |
O Caçador de Pipas, Khaled Hosseini, 368 págs., Ed. Nova Fronteira, tel. (21) 2131-1183, 26,90 reais | Primeiras Estórias, Guimarães Rosa, 236 págs., Ed. Nova Fronteira, tel. (21) 2131-1183, 29 reais | Travessuras da Menina Má, Mario Vargas Llosa, 304 págs., Ed. Alfaguara, tel. (21) 2199-7824, 45,90 reais |
Elisa Meirelles (elisa.meirelles@abril.com.br). Com reportagem de toda a equipe de NOVA ESCOLA e
NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Como usar os gêneros para ensinar leitura e produção de textos
Eles invadiram a escola - e isso é bom! Mas, é preciso parar de ficar só ensinando suas características!
1 Como usar os gêneros nas aulas de Língua Portuguesa
Todo dia, você acorda de manhã e pega o jornal para saber das últimas novidades enquanto toma café. Em seguida, vai até a caixa de correio e descobre que recebeu folhetos de propaganda e (surpresa!) uma carta de um amigo que está morando em outro país. Depois, vai até a escola e separa livros para planejar uma atividade com seus alunos. No fim do dia, de volta a casa, pega uma coletânea de poemas na estante e lê alguns antes de dormir. Não é de hoje que nossa relação com os textos escritos é assim: eles têm formato próprio, suporte específico, possíveis propósitos de leitura - em outras palavras, têm o que os especialistas chamam de "características sociocomunicativas", definidas pelo conteúdo, a função, o estilo e a composição do material a ser lido. E é essa soma de características que define os diferentes gêneros. Ou seja, se é um texto com função comunicativa, tem um gênero.
Na última década, a grande mudança nas aulas de Língua Portuguesa foi a "chegada" dos gêneros à escola. Essa mudança é uma novidade a ser comemorada. Porém muitos especialistas e formadores de professores destacam que há uma pequena confusão na forma de trabalhar. Explorar apenas as características de cada gênero (carta tem cabeçalho, data, saudação inicial, despedida etc.) não faz com que ninguém aprenda a, efetivamente, escrever uma carta. Falta discutir por que e para quem escrever a mensagem, certo? Afinal, quem vai se dar ao trabalho de escrever para guardá-la? Essa é a diferença entre tratar os gêneros como conteúdos em si e ensiná-los no interior das práticas de leitura e escrita.
Essa postura equivocada tem raízes claras: é uma infeliz reedição do jeito de ensinar Língua Portuguesa que predominou durante a maior parte do século passado. A regra era falar sobre o idioma e memorizar definições: "Adjetivo: palavra que modifica o substantivo, indicando qualidade, caráter, modo de ser ou estado. Sujeito: termo da oração a respeito do qual se enuncia algo". E assim por diante, numa lista quilométrica. Pode até parecer mais fácil e econômico trabalhar apenas com os aspectos estruturais da língua, mas é garantido: a turma não vai aprender. "O que importa é fazer a garotada transitar entre as diferentes estruturas e funções dos textos como leitores e escritores", explica a linguista Beth Marcuschi, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
É por isso que não faz sentido pedir para os estudantes escreverem só para você ler (e avaliar). Quando alguém escreve uma carta, é porque outra pessoa vai recebê-la. Quando alguém redige uma notícia, é porque muitos vão lê-la.
Quando alguém produz um conto, uma crônica ou um romance, é porque espera emocionar, provocar ou simplesmente entreter diversos leitores. E isso é perfeitamente possível de fazer na escola: a carta pode ser enviada para amigos, parentes ou colegas de outras turmas; a notícia pode ser divulgada num jornal distribuído internamente ou transformado em mural; o texto literário pode dar origem a um livro, produzido de forma coletiva pela moçada.
Quando alguém produz um conto, uma crônica ou um romance, é porque espera emocionar, provocar ou simplesmente entreter diversos leitores. E isso é perfeitamente possível de fazer na escola: a carta pode ser enviada para amigos, parentes ou colegas de outras turmas; a notícia pode ser divulgada num jornal distribuído internamente ou transformado em mural; o texto literário pode dar origem a um livro, produzido de forma coletiva pela moçada.
Os especialistas dizem que os gêneros são, na verdade, uma "condição didática para trabalhar com os comportamentos leitores e escritores". A sutileza - importantíssima - é que eles devem estar a serviço dos verdadeiros Conteúdos os chamados "comportamentos leitores e escritores" (ler para estudar, encontrar uma informação específica, tomar notas, organizar entrevistas, elaborar resumos, sublinhar as informações mais relevantes, comparar dados entre textos e, claro, enfrentar o desafio de escrevê-los). "Cabe ao professor possibilitar que os alunos pratiquem esses comportamentos, utilizando textos de diferentes gêneros", afirma Beatriz Gouveia, coordenadora do Programa Além das Letras, do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.
2 As boas opções para abordar os gêneros em sala de aula
Existem muitas formas de trabalhar os gêneros na prática. Conheça e compare duas propostas curriculares, de uma instituição privada e de uma rede pública. A primeira é da Secretaria de Educação de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. A segunda é da Escola Projeto Vida, em São Paulo. Ambas cobrem do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental e podem servir de exemplo para distribuir os conteúdos porque representam um passo além da chamada "normatização descritiva" (a tendência de explicar só as características de cada gênero).
Antes de detalhar como funciona essa abordagem que privilegia o ensino dos comportamentos leitores e escritores, vale uma palavrinha sobre os conteúdos clássicos da disciplina: ortografia e gramática. Eles continuam sendo muito importantes nesse novo jeito de planejar, pois conhecê-los é essencial para que os alunos superem as dificuldades. Que tempo verbal usar para contar algo que já aconteceu? Que recursos de coesão e coerência garantem a compreensão de uma história? "Saber utilizar a língua é o que mais influencia a qualidade textual", ressalta Beth Marcuschi. Para alcançar isso, porém, não é necessário colocar a ortografia e a gramática como "um fim em si mesmo", ocupando o centro das aulas. Assim como os gêneros, elas são um meio para ensinar a ler e escrever cada vez melhor.
Nas propostas curriculares da Escola Projeto Vida e da rede de Nova Lima, você vai notar que não existe uma progressão de aspectos "mais fáceis" para outros "mais difíceis", pois qualquer gênero pode ser trabalhado em qualquer ano. "O que deve variar conforme a idade é a complexidade dos textos", afirma Regina Scarpa, coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA. Além disso, é fundamental retomar o estudo sobre um determinado gênero (em diferentes momentos, mas para atender a necessidades específicas de aprendizagem).
3 A turma deve saber que cada tipo de texto tem um suporte
A apresentação dos textos é outro ponto essencial: eles devem ser trabalhados em seu suporte real. Se você quer usar reportagens, tem de levar para a sala jornais e revistas de verdade. Para explorar receitas, é preciso que os alunos manuseiem obras de culinária. Na análise de biografias, é fundamental cada um dispor de livros desse tipo. E assim sucessivamente. Portanto, nada de oferecer apenas uma carta que está publicada (ou resumida) nas páginas do livro didático.
Isso posto, é hora de mergulhar nos currículos. O fio condutor que aproxima as duas propostas é a preocupação de fazer a turma transitar pelas três posições enunciativas do texto: ouvinte, leitor e escritor. É nessa "viagem" de possibilidades que a garotada exercita os tais comportamentos leitores e escritores. Na proposta da Secretaria de Educação de Nova Lima, todo professor lê diariamente, ao longo do primeiro semestre, contos para a turma de 2º ano. Ao ouvir, os alunos se familiarizam com diversos exemplos de texto, apreciando-os e aprendendo a identificar características.
Ao mesmo tempo, eles atuam como leitores, comparando diferentes versões de um conto, por exemplo, com o objetivo de refletir sobre os recursos linguísticos escolhidos pelos autores. E o professor ainda põe a garotada para trabalhar - pede que todos caracterizem um personagem e, portanto, escrevam. Nessa hora, eles vão usar termos como "bom", "mau", "bonito", "nervoso" etc. "Só então cabe explicar que esses termos são chamados de adjetivos e são muito importantes em diversos textos, sobretudo os contos e as propagandas, mas não são adequados em outros, como as notícias", explica Beth Marcuschi.
Nessa integração de atividades com diferentes propósitos, os estudantes vão muito além das características de cada gênero - e aprendem de fato a ler e escrever, inclusive fazendo uso da ortografia e da gramática em situações reais. Tudo isso permite dar o pontapé inicial ao que os especialistas chamam de "caminho da autoria". Uma possibilidade é propor a reescrita (individual) de um conto. Mas o percurso pelas três posições enunciativas só estará completo quando a garotada produzir o próprio conto (no caso de Nova Lima, isso é feito no semestre seguinte, com direito a ler as produções para outras turmas).
4 Organização do trabalho pede mescla de modalidades
Para integrar essa multiplicidade de propostas e dar conta da evolução dos conteúdos, o melhor caminho é organizar as aulas conforme as modalidades propostas pela pesquisadora argentina Delia Lerner e dividir os trabalhos entre atividades permanentes, sequências didáticas e projetos didáticos - que podem ser interligados ou usados separadamente, dependendo dos objetivos. "A chave é pensar numa progressão das dificuldades", afirma a linguista Vera Lúcia Cristóvão, da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
O projeto didático é a modalidade mais indicada para trabalhar a escrita - afinal, ao criar um produto final com público definido, a turma aprende a focar em um gênero e saber o quê, por quê e para quem escrever. Em um projeto didático sobre propagandas, por exemplo, a exibição das criações para outros estudantes permite reproduzir o que ocorre com a publicidade na vida real. Além disso, a tarefa adquire outro sentido, pois o aluno sabe que escreve para que outros leiam (e não apenas para o professor) e, portanto, passa a prestar mais atenção na necessidade de se fazer entender.
Já as sequências didáticas são ideais para a leitura de diferentes exemplares de um mesmo gênero, de obras variadas de um mesmo autor ou de diversos textos sobre um tema. Elas garantem uma progressão que respeita o objetivo a ser alcançado. Ao planejá-las, é importante colocá-las antes dos projetos de produção textual. No projeto da Secretaria de Educação de Nova Lima, por exemplo, os textos informativos são explorados numa sequência didática meses antes da criação de um jornal mural.
E as atividades permanentes têm como meta criar familiaridade com os diversos comportamentos leitores. Na Projeto Vida, as turmas do 2º ao 5º ano realizam semanalmente rodas de curiosidades, em que alunos contam para os colegas o que leram em jornais e revistas. Com isso, são estimulados a comentar as notícias.
Por fim, vale destacar que quando os gêneros são ensinados como instrumento para a compreensão da língua, não importa quantos ou quais você trabalha, desde que o objetivo seja usá-los como um jeito de formar alunos que aprendam a ler e escrever de verdade.
Disponível em:http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/generos-como-usar-488395.shtml?page=2
Reportagem sugerida por nove leitores: Adauto Monteiro de Oliveira, Itabaiana, SE, Angélica Jorge Machado, Salvador, BA, Claudia Fidélis, Joinville, SC, Creusa Aparecida Gomes, Cachoeira do Campo, MG, Kennedy Xavier Soares, Manaus, AM, Maria Lucia Monteiro, São Paulo, SP, Mariana Demétrio dos Santos, Ilhéus, BA,Nadir Soarea da Silva Celestino, Juína, MT, e Sheila Lilja, Rio Grande, RS
terça-feira, 30 de novembro de 2010
5 etapas para realizar uma boa pesquisa escolar
O primeiro passo para organizar uma situação de investigação que funcione como ferramenta didática é definir o tema de estudo e, em seguida, criar uma pergunta ou situação-problema que desperte na turma a vontade de saber mais (leia o exemplo de uma pesquisa em Ciências no quadro abaixo). Fechada a questão norteadora, antecipe dúvidas ou questões secundárias, que surgirão durante os debates e as descobertas realizadas. Uma boa estratégia é você realizar previamente a pesquisa, levando em conta o nível de conhecimento dos estudantes, as necessidades de aprendizagem e os obstáculos que deverão enfrentar. Essa simulação vai possibilitar ajustes na situação-problema (é possível perceber se o resultado não será o esperado e é preciso reformular a questão, por exemplo) e no planejamento das intervenções.
O tema da pesquisa deve ser atraente e estimulante. "É preciso certo grau de conhecimento sobre o que será investigado para ter a curiosidade despertada e querer se aprofundar no tema", explica Pedro Demo. Não adianta definir como foco a bolsa de valores, por exemplo, se os alunos nunca ouviram falar nesse assunto nem possuem um repertório básico para iniciar a procura. Por isso, antes de propor o trabalho, é importante falar sobre o assunto e exibir vídeos, fotos e outros materiais para aproximar a turma do assunto que será estudado.
O grande desafio é formular questões abrangentes e que permitam diferentes soluções e interpretações, sem ser genéricas ou apenas opinativas. Um exemplo, sobre a independência do Brasil: "Qual foi a importância, para a nossa independência, da reunião de deputados nas cortes portuguesas em 1822?" Para respondê-la, os alunos têm de ler diversos textos, que certamente apresentam diferentes pontos de vista sobre o período e fatores que explicam o fato em questão. É necessário pensar sobre essas diferenças de visão e, em seguida, formular e defender uma ideia própria.
Já a questão "Por que o Brasil se tornou independente?", por outro lado, não tem um foco claro e permite a apresentação de inúmeros argumentos e pontos de vista. Os alunos têm dificuldade de selecionar e ordenar as informações para respondê-la. Além de genérica, ainda permite uma resposta opinativa simples como esta: "Porque não queria mais ser comandado por Portugal" (que não está, necessariamente, certa ou errada).
Da Educação Infantil ao 2º ano
O tema da pesquisa deve ser atraente e estimulante. "É preciso certo grau de conhecimento sobre o que será investigado para ter a curiosidade despertada e querer se aprofundar no tema", explica Pedro Demo. Não adianta definir como foco a bolsa de valores, por exemplo, se os alunos nunca ouviram falar nesse assunto nem possuem um repertório básico para iniciar a procura. Por isso, antes de propor o trabalho, é importante falar sobre o assunto e exibir vídeos, fotos e outros materiais para aproximar a turma do assunto que será estudado.
O grande desafio é formular questões abrangentes e que permitam diferentes soluções e interpretações, sem ser genéricas ou apenas opinativas. Um exemplo, sobre a independência do Brasil: "Qual foi a importância, para a nossa independência, da reunião de deputados nas cortes portuguesas em 1822?" Para respondê-la, os alunos têm de ler diversos textos, que certamente apresentam diferentes pontos de vista sobre o período e fatores que explicam o fato em questão. É necessário pensar sobre essas diferenças de visão e, em seguida, formular e defender uma ideia própria.
Já a questão "Por que o Brasil se tornou independente?", por outro lado, não tem um foco claro e permite a apresentação de inúmeros argumentos e pontos de vista. Os alunos têm dificuldade de selecionar e ordenar as informações para respondê-la. Além de genérica, ainda permite uma resposta opinativa simples como esta: "Porque não queria mais ser comandado por Portugal" (que não está, necessariamente, certa ou errada).
Da Educação Infantil ao 2º ano
Com alunos menos experientes, o ideal é pesquisar uma única questão coletivamente. É importante anotar num lugar visível, como um grande cartaz na parede, a questão principal e as demais dúvidas surgidas durante o trabalho para que todas sejam relembradas sempre que preciso. Isso permite avaliar os avanços ao longo do processo. As perguntas propostas são simples e muitas delas se referem à localização pontual de informações: "Onde vivem os leões e as girafas?", por exemplo. Como as criança não têm tanta prática nesse tipo de tarefa e ainda estão em fase de alfabetização, isso resolve uma necessidade de aprendizagem fundamental: buscar informações nos livros mesmo não sabendo ler convencionalmente.
Do 3º ao 5º ano
Do 3º ao 5º ano
As questões secundárias, feitas durante a investigação, devem incluir problemas interpretativos e abrangentes - e não somente questões pontuais. A ideia, nessa fase da escolaridade, é levar os alunos a selecionar nos textos lidos informações que ajudem a justificar seu ponto de vista, além de desenvolver a habilidade de fazer uma primeira leitura com base em índice, título, subtítulo e legendas.
Do 6º ao 9º ano
Do 6º ao 9º ano
A questão principal deve ser suficientemente abrangente para que os jovens, já mais experientes nesse tipo de atividade, ampliem as relações entre diferentes textos e pontos de vista resentados pelos autores. Com a tarefa, eles devem se tornar capazes de relacionar dados obtidos em diversas partes do texto (epígrafes, gráficos, índice, ilustrações etc.) e de identificar o que é opinião e o que é fato.
2 Indicar fontes seguras
A base de qualquer pesquisa são os materiais que os alunos vão analisar. Por isso, a escolha deles deve ser criteriosa e feita, necessariamente, por você assim que começar a planejar a atividade. Deixe claro para a turma que pesquisa não se faz somente em enciclopédias e apresente fontes de diferentes gêneros. De modo geral, não podem ficar de fora os textos típicos de cada área - por exemplo, reportagens de divulgação científica, artigos históricos e resenhas literárias -, mesmo que considerados difíceis para a faixa etária dos alunos. Fique atento à sequência de leitura dos textos. Eles têm de dialogar entre si e as novas questões surgidas precisam ser respondidas pelo próximo.
Além de livros e artigos, fotos e ilustrações e arquivos de áudio e vídeo também podem ajudar. Outras alternativas eficientes, dependendo do tema e da disciplina, são entrevistas com especialistas ou testemunhas históricas e os dados coletados em saídas a campo, experimentos científicos e durante a observação de fenômenos ou situações sociais, além de levantamentos estatísticos.
A consulta à internet é um capítulo à parte. Já está claro que a pesquisa na rede sem orientação não é uma atividade pedagógica produtiva. As diferenças entre a confiabilidade do conhecimento publicado em livros e na internet foi objeto de estudo de Roger Chartier, diretor do Centro de Pesquisas Históricas em Ciências Sociais na École des Hautes Études, na França. Para ele, há um sistema de referências nas fontes impressas que minimiza a possibilidade de erro na publicação de informações. Na internet, esse filtro, quando existe, é bem menos seletivo. Explique isso aos estudantes e deixe claros seus critérios de escolha das páginas indicadas, além de acompanhá-los durante o trabalho.
Um estudo da Universidade de Buenos Aires deu pistas de como os alunos buscam informações na rede para os trabalhos escolares. Eles acessam um site de busca (como o Google) e digitam uma ou mais palavras. Em seguida, tentam avaliar a qualidade dos dados dos sites indicados, refazendo o processo várias vezes até terem alguma certeza de que nomes, números e datas conferem - um procedimento altamente complexo e que nem sempre funciona. Quando a informação pesquisada não é pontual, a prática se torna mais ineficiente.
Por fim, alerte os alunos para a importância das referências sobre cada fonte consultada (Quem é? Quando disse isso? Por quê?). Esse cuidado ajuda a chancelar a qualidade do trabalho e a demonstrar que há sempre algum viés ideológico e que não existe fonte neutra (leia o exemplo de uma pesquisa em Geografia no quadro abaixo).
Da Educação Infantil ao 2º ano
Para as turmas em fase de alfabetização, são uma boa pedida os textos curtos e com ilustrações, que ajudam a entender o assunto tratado. Reportagens de revistas, que contenham fotos, e infográficos podem atender aos mesmos objetivos. Na hora de escolher os livros de consulta, opte pelos que têm índices que façam referências claras aos temas de cada página ou capítulo. A internet deve ser usada com parcimônia, só para as dúvidas mais pontuais.
Do 3º ao 5º ano
Textos científicos e jornalísticos mais longos são adequados. Certifique-se de que eles contenham diferentes perspectivas e pontos de vista. Nessa fase, as crianças já podem lidar com a dificuldade que se apresenta quando dados não coincidem. Elas devem aprender que, diferentemente do que ocorre durante a leitura de ficção, as informações devem ser analisadas e confrontadas. Nos trabalhos em grupo, garanta que todos tenham acesso a diferentes fontes para que aprendam a comparar informações.
Do 6º ao 9º ano
Nesse segmento, a pesquisa deve ser realizada com mais autonomia. Indique fontes que tragam as informações procuradas e outras que não tratem diretamente do assunto. Na vida real, muitos dos materiais que consultamos não contêm o que buscamos. Debata com a sala o que são sites confiáveis e problemas encontrados em blogs, que muitas vezes não passam pelo crivo de um editor. Os que já estão cientes disso podem pesquisar sozinhos. Porém, durante o trabalho, eles terão de justificar por que consideram a informação confiável.
3 Ensinar a interpretar
A etapa mais importante da pesquisa escolar é, sem dúvida, a interpretação de tudo o que foi lido, visto e experimentado durante o processo. "Com a ajuda do professor, os alunos vão conhecer modelos mais claros de leitura para estudar, aprender a tomar notas, fazer resumos e analisar imagens e procedimentos de observação e experimentação", ressalta Jorge Santos Martins, autor de livros sobre pesquisa. As situações de interpretação são de três tipos: individuais, em pequenos grupos e com toda a sala. Com qual delas começar é um critério didático que deve ser planejado com cuidado. O aluno pode ter um primeiro contato com o material sozinho, utilizando os conhecimentos que tem até o momento. Depois, coletivamente, é possível introduzir as discussões pedindo que todos indiquem pontos que contribuem para o propósito da pesquisa. Após a discussão, ajude-os a encontrar uma linha interpretativa ajustada aos propósitos do trabalho (leia o exemplo de pesquisa em Matemática no quadro abaixo).
Cada material demanda um trabalho de análise diferenciado. Em relação à leitura de imagens, proponha comparações entre elas, identifique os autores, trabalhe a intenção comunicativa deles e contextualize o momento de produção. Durante experimentos científicos, indique formas de testar hipóteses. Nas saídas de campo, é preciso orientar o olhar das crianças e levar materiais de apoio para explicar o que está sendo visto.
A interpretação de textos, por sua vez, é a atividade mais recorrente numa pesquisa. Em contato com o texto, os alunos aprendem determinado conteúdo enquanto relacionam o que está sendo lido àquilo que já sabem. Por isso, fique atento e avalie constantemente se eles possuem informações prévias que permitam compreender o sentido dos escritos e como lidam com as contradições entre o que já sabem e os novos dados. A atividade inclui revisar conhecimentos anteriores, reorganizá-los sob nova perspectiva, estabelecer diferentes relações, propor-se perguntas e buscar respostas. Um desafio e tanto. Para ajudá-los, faça leituras coletivas e vá acrescentando informações, destaque marcadores linguísticos de argumentação ou oposição, faça perguntas e proponha anotações.
Da Educação Infantil ao 2º ano
Para as turmas que ainda estão se alfabetizando, as situações coletivas de leitura e interpretação são essenciais. Nessa hora, você se apresenta como um modelo leitor desses novos gêneros. Aproveite esses momentos para mostrar a necessidade de fazer inferências para construir sentidos e peça que os alunos tomem notas, escrevendo da maneira que sabem.
Do 3º ao 5º ano
Nessa fase, é essencial ensinar a turma a fazer anotações e produzir resumos e tabelas que ajudem na compreensão do material que foi analisado. Essas atividades facilitam a organização lógica do pensamento das crianças.
Do 6º ao 9º ano
Os alunos devem ser convidados a interpretar textos, imagens e dados de forma autônoma cada vez com mais frequência. Acompanhe sempre. Ao observar problemas na compreensão do que está sendo estudado, retome o material utilizado e ajuste as interpretações.
4 Orientar a produção escrita
Para estudar, não é importante somente ler, mas também escrever. A escrita é uma poderosa ferramenta de organização do conhecimento e favorece o aprofundamento do tema abordado. Por isso, é fundamental que você oriente a turma sobre como tomar notas e elaborar resumos que ajudem na seleção de informações que respondam à questão proposta. Leia alguns exemplos e modelos. Explique que não se trata de cópias de partes do texto, mas de explicações e anotações com as próprias palavras sobre o que foi lido. Deixe claro que esses registros ajudam na análise e na escrita da conclusão da investigação.
Das etapas da pesquisa escolar, a produção de texto é a que requer mais atenção de sua parte e a que representa o maior desafio para os alunos. Isso porque, de modo geral, eles não estão acostumados a produzir textos em que é preciso demonstrar o conhecimento obtido na consulta a fontes variadas. Como assumir um ponto de vista próprio tendo como base as ideias de diversas pessoas? O que está em jogo é integrar de maneira coerente e pessoal as informações vindas dos vários meios, sempre tendo em mente a necessidade de responder à pergunta inicial e às secundárias.
No seu planejamento, determine qual será o produto final, de acordo com os objetivos propostos e o nível de conhecimento da sala (leia o exemplo de uma pesquisa na Educação Infantil no quadro abaixo). Um livro de verbetes enciclopédicos produzido coletivamente, uma reportagem, um seminário com apoio escrito, um artigo e um cartaz são algumas das opções. Seja qual for sua escolha, não se esqueça de que a garotada precisa conhecer modelos. Para garantir a familiaridade, faça muitas leituras do gênero, discuta sua estrutura e função comunicativa e chame a atenção para os elementos linguísticos que caracterizam sua organização. Oriente cada passo da produção, propondo mudanças e realizando revisões coletivas dos elementos textuais e da apresentação da própria informação.
Da Educação Infantil ao 2º ano
Nessa fase, as produções orais com destino escrito são a melhor estratégia de sistematização. Com a sua orientação, os alunos podem refletir sobre a linguagem que se escreve e sobre a estrutura que a apresentação necessita ter. Um bom desafio para os pequenos é tentar escrever de forma autônoma verbetes e fichas contendo diferentes descobertas.
Do 3º ao 5º ano
Reportagens, relatórios e resumos são adequados para o nível desses estudantes. Para produzi-los, intercale momentos de produção individual, situações com toda a sala e em subgrupos. Reforce as orientações sobre a questão da cópia (usar uma informação não é copiá-la) e a importância de fazer referência aos dados usados.
Do 6º ao 9º ano
O desafio deve ser crescente. Convide os jovens a produzir monografias e artigos, como fazem cientistas e pesquisadores profissionais. É importante trabalhar cada tópico em aula e ajudar na definição de objetivos, justificativas e conclusões.
5 Socializar os trabalhos
Os resultados das investigações feitas pelos alunos devem ser mostrados aos colegas, a outras turmas da escola ou mesmo à comunidade. "No mundo real, as descobertas decorrentes de uma pesquisa são divulgadas em publicações especializadas e para plateias interessadas, possibilitando que o conhecimento circule. Cabe à escola organizar situações semelhantes", afirma Jorge Santos Martins. A organização de debates, palestras, seminários e feiras de Ciências abertas à comunidade, além da produção de murais informativos no pátio, livros, textos e outros documentos são algumas opções (leia o exemplo de uma pesquisa em História no quadro abaixo). Não se esqueça de que qualquer uma delas deve ser proposta após o oferecimento de modelos e ser desenvolvida com orientação direta. Nas situações de apresentação oral, o aluno se porta como um especialista que explica e tira possíveis dúvidas dos ouvintes.
Quando toda a sala pesquisa uma única questão, é possível propor, por exemplo, um debate final dividindo os estudantes em dois grupos que devem discutir pontos polêmicos, se for o caso. Cheque as aprendizagens, perceba pontos que necessitam ser retomados, corrija possíveis erros conceituais e amarre as informações. Lembre: o professor é você. Se a turma foi convidada a investigar diferentes aspectos dentro de um mesmo tema, a socialização das descobertas se torna ainda mais importante. Os estudantes se informam com os colegas em apresentações orais ou por meio de resumos e aprendem com as intervenções que você propõe durante a aula. É essencial fazer uma sistematização de tudo o que foi trazido. Num novo texto, uma espécie de resumo coletivo, eles explicam o que foi aprendido. Assim, você avalia os avanços e verifica o que falta retomar.
Da Educação Infantil ao 2º ano
Uma maneira de fazer o conhecimento circular é preparar minisseminários para os pais com textos e desenhos das crianças. Ao ensinar os adultos, elas se sentem verdadeiros especialistas no assunto.
Do 3º ao 5º ano
Produzir cartazes e pôsteres para ser colocados no pátio da escola com as respostas a diferentes perguntas surgidas durante a pesquisa está entre as estratégias adequadas para essa faixa etária. A turma pode ser dividida em grupos para explicar com mais detalhes o que foi descoberto.
Do 6º ao 9º ano
O ideal é desafiar os alunos a produzir seminários e debates com a participação de toda a escola. Os grupos podem defender os trabalhos para uma "banca" ou criar experimentos e situações para explicar o caminho trilhado até chegar às conclusões em uma feira de Ciências.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Use a internet a favor da Educação
A rede mundial de computadores e seus inúmeros recursos oferecem muito concorrência ao estudo para crianças e adolescentes, é verdade. Mas a web também pode ser usada a favor da Educação, pois o seu uso aumenta as conexões lingüísticas, geográficas e interpessoais. Saiba como a internet pode se tornar uma aliada para melhorar a Educação do Brasil.
Redes sociais
Twitter, Facebook, Formspring, Orkut podem promover interação pedagógica entre alunos e professores.
Chats
Professores conectados podem usar programas como o MSN para tirar dúvidas dos alunos na hora da lição de casa.
Sites educativos
Sites oferecem conteúdos úteis para todas as fases do aprendizado: da alfabetização até o Ensino Médio. Confira alguns aqui.
Blogs
Incentivar crianças e adolescentes a ter diários é uma maneira diferente de estimular a leitura e a escrita.
Educação a distância
Cada vez mais gente tem conseguido fazer Ensino Superior graças à possibilidade de estudar remotamente
Pesquisa
Com a ajuda do professor, a web pode ser uma ótima fonte de pesquisa. Há muita informação de qualidade na rede
Divulgação de trabalhos
A internet é uma maneira fácil e barata de valorizar trabalhos. É possível criar um blog ou um canal no YouTube para postar vídeos. Veja a experiência da professora Lina Mendes.
O celular tira a concentração dos alunos e atrapalha as aulas? Certamente a maioria dos professores diria que sim. Mas Lina Mendes, professora de Português do Colégio Ítaca, em São Paulo, resolveu transformar o celular num aliado. Ao trabalhar a questão do preconceito, ela pediu que os alunos fizessem vídeos sobre o tema utilizando as câmeras dos celulares. Em uma conversa por telefone hoje à tarde, Lina me contou um pouco dessa experiência:
“Sempre procurei aliar a tecnologia à Educação. Fiz mestrado nessa área e, desde que comecei a lecionar, uso ferramentas como blogs e podcasts. A minha experiência mais recente foi com vídeos. Além de Português, dou uma disciplina que se chama Panoramas, em que trabalho temas da atualidade que fazem os alunos refletirem. No segundo bimestre desse ano, abordei o preconceito e pedi que os alunos do 9º ano usassem a câmera do celular para fazer vídeos sobre o tema.
Eles fizeram trabalhos bem interessantes. Muitos fizeram entrevistas com pessoas que conheciam e que já tinham sofrido preconceito, outros produziram vídeos bem autorais. Eles puderam usar também trechos de vídeos que já estão disponíveis no YouTube.
Para editar, eles usaram o Windows MovieMaker, programa que já vem junto com o Windows. Como eles têm muita facilidade com a tecnologia, com poucas orientações aprenderam a usar o programa. A maioria fez o trabalho em casa, mas alguns preferiram usar o laboratório de informática da escola. No fim, criamos dois blogs para divulgar os trabalhos: o Preconceito – Panoramas e o Vídeos de Preconceito.
Foi uma experiência ótima e que certamente pretendo repetir. Os alunos se interessaram muito, pois eles se sentiram participando do processo. Continuo usando a lousa e o giz, mas é muito importante trazer o mundo do aluno para dentro da escola também.”
Neste blog, Lina conta mais sobre as suas experiências e propõe debates sobre tecnologia, leitura, escrita e outras discussões que passem pelos bancos da escola. E você? Conhece alguma experiência interessante que una tecnologia e Educação? Conte pra gente!
por: Marina Azaredo
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