A primeira decisão da Justiça rejeitou a retirada da frase “Deus seja louvado” das cédulas de real. O pedido
foi feito neste mês pelo Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo,
que alegou que o Estado brasileiro é laico e deve respeitar religiões
minoritárias.
A decisão, da 7ª Vara Federal Cível de São Paulo, é
provisória e pode ser revogada ou modificada. Nela, a juíza federal
Diana Brunstein disse que não encontrou oposição à grafia da frase nas
notas. “De fato, não foi consultada nenhuma instituição laica ou
religiosa não cristã que manifestasse indignação perante as inscrições
da cédula e não há notícia de nenhuma outra representação perante o
Ministério Público neste sentido”, diz no texto.
Ela apontou
falta de provas do desrespeito a minorias. “Entendo este fato relevante
na medida em que a alegação de afronta à liberdade religiosa não veio
acompanhada de dados concretos, colhidos junto à sociedade, que
denotassem um incômodo com a expressão ‘Deus’ no papel-moeda”, afirma.
Para
Diana Brunstein, a menção de Deus nas cédulas “não parece ser um
direcionamento estatal na vida do indivíduo que o obrigue a adotar ou
não determinada crença”. Na argumentação, ela cita ainda feriados
religiosos e outras manifestações amplamente aceitas.
Ouvida na
fase de inquérito, a União defendeu a legalidade da expressão. O Banco
Central, responsável pelo desenho das notas, também afirmou que as
características delas não violam princípios constituições do Estado
laico e da liberdade religiosa.
Entenda o caso
A
inclusão da frase “Deus seja louvado” foi feita em 1986, por
determinação direta do então presidente da República, José Sarney. Em
1994, com o Plano Real, o texto foi mantido pelo ministro da Fazenda,
Fernando Henrique Cardoso.
Neste mês, o procurador regional dos
direitos do cidadão Jefferson Aparecido Dias, do MPF, entrou com ação
pública pedindo que o Banco Central e União retirassem o texto das notas
em um prazo de 120 dias. Ele defendeu a medida como forma de proteger a
“liberdade religiosa de todos os cidadãos”, já que nenhuma lei permite a
manifestação religiosa por parte do Estado. “Imaginemos a cédula de
real com as seguintes expressões: ‘Alá seja louvado’, ‘Buda seja
louvado’, ‘Salve Oxossi’, ‘Salve Lord Ganesha’, ‘Deus não existe’. Com
certeza cristalina haveria agitação na sociedade brasileira em razão do
constrangimento sofrido pelos cidadãos crentes em Deus”, afirma Dias na
ação.
Logo após a divulgação da ação, Sarney (PMDB-AP), atual presidente do Senado, reagiu à proposta. ”Eu
tenho pena do homem que na face da Terra não acredita em Deus”, disse o
senador. Sarney defendeu ainda que, ao contrário do que querem os
procuradores, é necessário ter consciência da gratidão a Deus. “Eu acho
que é uma falta do que fazer porque, na realidade, precisamos cada vez
mais ter a consciência da nossa gratidão a Deus por tudo o que ele fez
por todos nós, humanos, e pela criação do universo. Nós não podemos
jamais perder o dado espiritual”, afirmou.
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