Homens e mulheres tiveram papel importante no movimento da Reforma
protestante no século XVI. Mas enquanto a história registra a
contribuição de Martim Lutero, João Calvino, João Knox, Ulrico Zwinglio,
Felipe Melanchton e outros, quem é capaz de mencionar a participação de
mulheres no movimento?
Catarina Von Bora, Catarina Schutz Zell,
Claudine Levet, Marie Dentèrem, Rachel Specht ocuparam espaços na
Reforma protestante, destaca a pastora reformada Sonia Motta, da Igreja
Presbiteriana Unida (IPU), em artigo que escreveu para o Centro de
Estudos Bíblicos (Cebi).
“Se na Idade Média o ideal feminino era
o de monja, na época da Reforma o ideal era ser esposa e mãe”, assinala
Sonia. Lutero tinha essa postura, entendendo que a esposa e mãe estavam
sujeitas ao marido. João Knox foi ainda mais radical, não aceitando
qualquer tipo de governo de mulheres, pois isso contrariaria a natureza
da Escritura e usurparia a autoridade masculina.
Mesmo tratando
do silêncio das mulheres, como o apóstolo Paulo preconizara, Calvino
reconheceu a participação e a importância delas nas Escrituras Sagradas,
mas manteve a subserviência da mulher em relação ao homem, analisa a
pastora reformada.O reformador admitia que seria um escândalo uma mulher
ensinar o seu marido pela pregação.
A mulher de Lutero,
Catarina von Bora (1499-1550), é, talvez, a reformadora mais
reconhecida, pois conseguiu extrapolar o papel de “esposa de Lutero”.
Ela foi monja antes de se casar com Lutero e conhecia os segredos da
medicina caseira. Ela era uma ótima administradora dos bens familiares,
sabia ler e escrever, o que era uma exceção para a condição de mulheres
da época.
Em Estrasburgo viveu Catarina Schutz Zell (1497-1562),
casada com um sacerdote que foi excomungado. Ela escreveu ao bispo
local defendendo o casamento de clérigos. Era uma mulher culta, leitora
de Lutero. “Catarina Zell também escrevia muito, e em suas cartas
incentivava as mulheres dos fugitivos (defensores da Reforma) a
permanecerem firmes na fé”, afirma Sonia.
Schutz Zell escreveu
comentário sobre os Salmos 51 e 130, sobre a oração dominical e o Credo.
Acolheu flagelados, pessoas perseguidas, visitou doentes, realizou
pregações, inclusive na morte do marido.
Em Genebra, Claudine
Levet assumiu, em diversas ocasiões, o papel de pastora e pregadora,
quando eles faltavam em congregações. Ela aplicou suas posses em favor
dos pobres.
Marie Dentière também atuou em Genebra, como pregadora e
escritora. Chegou a remeter carta à rainha Marguerite, de Navarra,
pedindo que ela intercedesse junto ao irmão, o rei da França, para
eliminar a divisão entre homens e mulheres.
“Embora não seja
permitido a nós (mulheres) pregar em assembléias públicas e nas igrejas,
não obstante não nos é proibido escrever e admoestar uma a outra com
todo o amor”, escreveu à rainha.
A calvinista inglesa Rachel
Specht recorreu, em 1621, à parábola dos talentos para defender o
direito das mulheres. Se Deus concedeu corpo, alma e espírito às
mulheres, por que Ele daria todos esses talentos, se não para serem
usados? – indagou. Não usá-los seria uma irresponsabilidade, argumentou.
Igrejas da Reforma, constata a pastora presbiteriana, levaram
algum tempo para ordenar mulheres, o que não é, “lamentavelmente”, a
prática em todas as denominações protestantes.
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